Depois de pouco mais de um mês consegui finalmente escrever meu Relato de Parto... estava sumida aqui do blog por uma excelente causa, meu príncipe chegou ao mundo e vem tomando todo meu tempo e atenção...
Espero que vocês gostem!!!
...40 semanas e 6 dias.. Era sábado pela manhã quando fui
acordada pelo líquido da bolsa molhando minha calcinha...
Calmamente acordei o Victor e disse que achava que a bolsa
tinha rompido, ele acordou num pequeno pulo e os olhos arregalados. Levantei, fui
ao banheiro trocar a calcinha e colocar um absorvente. Lembro de dizer para o
Victor.. “E aí, tá preparado pra ser pai?”...
Liguei para a minha doula e para o meu obstetra D. Galletto
que me orientou a ir para a Maternidade fazer uma avaliação. Como não estava
sentindo absolutamente nada e o líquido que saía era pouco tomei um banho, me
troquei calmamente e resolvi ligar para a minha mãe. Estava meio relutante em
avisá-la pois sabia que ela ia ficar nervosa, mas enfim, resolvi avisar mesmo
assim. Ela tentou segurar a onda mas acabou começando a chorar no telefone e
eu, a grávida com a bolsa rompida, tive que pedir pra ela ficar calma.
Cheguei na Maternidade por volta das 11:30 da manhã e
constataram que estava mesmo com Bolsa Rota, a médica queria me internar mas eu
disse que iria para a minha casa esperar pelo Trabalho de Parto e mesmo contra
a vontade dela fui embora. Antes de sair ela me disse: “Se dentro de 18h você
não ganhar esse bebê você tem que voltar para tomar antibiótico pois o risco de
infecção aumenta muito”... maldita hora que ela disse isso!!!
Saímos da Maternidade e fomos almoçar, no caminho atualizei
minha doula e minha mãe que estava voltando para casa. Liguei para as amigas
mais próximas Gabi e Mari avisando que o Yuri resolveu finalmente nascer.
Depois de sairmos do restaurante ainda passei no mercado para comprar algumas
coisinhas e finalmente fui pra casa.
Quando saí do carro uma boa quantidade de líquido escorria
pelas minhas pernas, subi rápido pro apartamento e me enfiei no chuveiro. Minha
mãe e minha irmã estavam em casa, pois eu havia pedido que minha mãe desse um
jeitinho no ap pra chegada do Yuri. Nesse momento eu nem imaginava que nada do
que eu havia planejado iria acontecer...
Descansei um pouco durante a tarde, ansiosa por uma
contração, uma dorzinha... qualquer coisa. Passamos o sábado inteiro e nada
acontecia, fiquei fazendo alguns exercícios na bola, subi e desci as escadas do
meu prédio inteiro umas 3 vezes, tomei o chá da doula, andei de um lado para o
outro... fiz de um tudo mas, além do líquido, nada indicava que o Yuri queria
mesmo nascer. Durante a noite comecei a ficar mais nervosa e a frase da médica
não saía da minha cabeça “18h horas de bolsa rota e você tem que voltar”...
putz.. o tempo ia passando, passando, passando.. e NADA...
Pra ajudar o meu querido marido teve um surto de sono e
capotou, nada conseguia acordá-lo... Fiquei “de cara” me perguntando como ele
conseguia dormir naquela situação!! Durante a madrugada fiquei conversando com
a minha doula pelo face e tentando em vão dormir um pouco. Minhas 18h acabavam as 03:30... e por volta
das 03:00 uma tempestade daquelas começou a cair, um vento absurdo e falta de
energia. Resolvemos começar a nos arrumar, pegar as bolsas e toda a tralha pra
irmos pra Maternidade...
Esperamos a chuva passar e fomos para a Maternidade. Como eu
imaginava tive que ficar internada para tomar o antibiótico. Começava ali o
início de um dia exaustivo e de muita tensão.
As más notícias começaram logo que fui internada. A
enfermeira chefe de plantão proibiu a entrada da minha doula. Disse que se o
pai saísse não poderia mais entrar. Ia por água abaixo, pelo menos por
enquanto, a nossa ideia de revezamento marido-doula e se iniciava a minha
primeira crise de choro.
Depois disso um médico muito “simpático” veio me examinar e
disse com todas as letras que eu provavelmente iria para uma cesária pois
estava com o colo do útero totalmente desfavorável e com 1cm de dilatação. Respondi
com toda autoridade que não iria para cesárea nenhuma e que iria esperar. Assim
que ele virou as costas, minha autoridade deu lugar a minha insegurança e
iniciei a minha segunda crise de choro.
Falava com a minha doula pelo telefone e estávamos ansiosas
para que o plantão da enfermeira-chefe malvada acabasse para tentarmos uma
conversa amigável com a próxima.
As horas iam passando devagar... o cenário não era dos mais
agradáveis...
Junto comigo no quarto-enfermaria tinham mais 2 meninas.
Uma delas estava totalmente
descompensada de dor e gritava muito... quando eu digo muito é muito mesmo. Ela
chorava, pedia socorro, dizia que estava morrendo, que o bebê dela estava
morrendo, pedia “pelamordedeus” que aquilo acabasse, enfim, tava desesperada. A
outra garota chorava um pouco durante as contrações e brigava com todo mundo
porque ela tinha que ir para uma cesárea, mesmo sem nenhuma indicação de que
aquilo fosse necessário.
Bem, e eu... Eu estava sem sentir absolutamente NADA... nem
uma dorzinha, morrendo de inveja das duas meninas e me perguntando porque elas
não estavam felizes por estar em trabalho de parto.
As horas iam se passando, tive mais umas crises de choro e
insegurança... me via cada vez mais longe do
parto normal, e cada vez mais perto do centro cirúrgico. O meu parto
humanizado e tão sonhado, com o passar do tempo, estava cada vez mais longe.
Durante todo esse tempo eu só não fiquei de ponta cabeça
porque isso não ajudaria em nada, mas de resto eu tentei de tudo... Andava
pelos corredores, fazia exercícios na bola, ficava no cavalinho, fazia a
técnica do rebozo... e NADA...
As 16h do domingo decidimos em conjunto (eu, marido, doula,
médica, enfermeira obstetra) que era necessário fazer alguma coisa para ativar
o trabalho de parto e foi então que tudo começou a mudar. Nesse momento eu vi
que as vezes as intervenções médicas são necessárias, e o quanto foi bom eu ter
me informado durante a minha gravidez. Decidimos colocar o comprimido de
misoprostol no colo do útero para ver se as contrações e o trabalho de parto se
iniciavam logo de uma vez!!!
Nesse meio tempo meu marido foi dispensado, minha doula
entrou em ação, conseguimos um quarto só nosso e tudo começou a fluir...
As 20h eu sentia a primeira dor do meu trabalho de parto.
Não conseguia tirar o sorriso de satisfação do rosto, finalmente estava
começando a acontecer, eu iria conseguir, tudo daria certo.
Liguei toda feliz para o meu marido e para minha mãe... Eu
sabia que agora era só uma questão de tempo e eu teria meu filhos nos braços!!!
Mal sabia eu o que ainda estava por vir!! Mas vamos por
partes...hauhauhauha
Estava tudo correndo as mil maravilhas, estávamos felizes eu
e a doula. Andávamos pelos corredores, tentava ficar o mais ativa possível e
logo as contrações começaram a vir mais fortes e em espaços menores de
tempo. Volta e meia aparecia alguém para
ouvir o coração do Yuri, medir minha pressão e verificar se tudo estava bem.
Curtia cada contração, respirava fundo e me deixava levar
pela dor, sentia as mãos carinhosas da Marília nas minhas costas e isso era
muito reconfortante.
Por volta mais ou menos da 01:30 de segunda-feira o bicho
começou a pegar. As contrações estavam bem fortes, tão fortes que eu achei que
o Yuri já estava nascendo e pedi pra Marília ligar para o Victor. Fiz o coitado
sair de casa e ficar na porta da Maternidade... ele iria esperar ainda por um
bom tempo!!!
Daí pra frente eu não lembro direito o que aconteceu... Eu
perdi totalmente a noção de tempo e espaço. Entrei de corpo e alma na
Partolândia. Lembro de falar pra Marília.. “onde eu tô?”... ficava meio
sonhando e meio acordada. Pensava muito no Victor, queria muito que ele
estivesse ali também. Lembro de ter ligado pra ele, mas não lembro o que eu
disse, acho que só queria escutar sua voz, queria que ele dissesse que tudo
daria certo.
Doía muito, muito mesmo... E eu comecei a choramingar, nos
momentos de quase lucidez dizia pra Marília que queria ir embora, queria ir pra
casa, que não ia aguentar, que estava doendo muito... Ela calmamente me dizia
que estava acabando, que eu ia aguentar sim, era isso que eu queria e eu não ia
desistir. No fundo... bem no fundo do meu subconsciente eu sabia que ela tinha
razão... mas eu tava com muita dor pra chegar até tão fundo.. e continuava
choramingando.
Não sei exatamente quando e como eu fui parar deitada na
cama para um “bendito” médico fazer um exame de toque bem no meio de uma
contração. Ele ainda disse que não era pra eu gritar, nem socar a parede (como
eu havia feito enquanto ele estava com o dedo LÁ durante a contração), que era
aquela dor que iria trazer o bebê e que eu tinha que relaxar!!
Nesse momento eu lembro de ter pensado em duas opções:
- A primeira era chutar a cara dele, e eu estava bem
posicionada pra acertá-lo em cheio, e mandá-lo tomar naquele lugar.
- A segunda era fazer o que ele queria pra ver se ele saía
logo da sala e, principalmente, se ele tirava a mão de dentro de mim.
Bem, o meu bom senso me fez optar pela segunda opção. O médico
“de”sumanizado ainda ficou com a mão LÁ
por mais uma contração pra confirmar se eu era uma boa menina e não ia fazer
mais escândalo. Eu aguentei firme por mais uma vez e fiz exatamente o que ele
pediu.
O excelentíssimo disse que eu estava com 5 pra 6 cm de
dilatação. Mas eu, a doula e a residente que já havia me examinado antes
sabíamos que ele estava errado. O Yuri já estava quase lá!!!
Pouco tempo depois eu comecei a sentir vontade de fazer
força. Pedi permissão para minha doula que disse.. “Tá com vontade de fazer
força? Então faz!!!”
Depois do maldito exame de toque eu não conseguia levantar
de jeito nenhum da maca. Vinha uma contração atrás da outra.. e a vontade de
fazer força só aumentava. Eu queria muito me levantar, sabia que aquela posição
só ia desfavorecer a descida do Yuri, e que ia ser pior pra mim também. Mas
depois de algumas tentativas frustadas acabei ficando deitada mesmo.
A cada contração eu segurava uma das pernas e a Marília
segurava a outra e eu fazia força e gritava. Mas não estava dando muito certo.
A posição deitada não me deixava fazer a força do jeito certo, eu tava fazendo
a força com a garganta e não com o abdômen. Era muito grito pra pouca
eficiência.
Depois de mais um tempo a médica do comprimidinho milagroso
apareceu pra me examinar e disse que daqui uns 20 minutos voltava para me levar
para a mesa de parto. Hein?? Mesa de parto?? A famosa mesa deitada com as
pernas para o ar??? Nós ainda tentamos dizer pra ela que queríamos a outra mesa
que tem lá na Maternidade que é melhor para posições verticais, mas ela falou de uma tal manobra
de ombro do bebê e blábláblá...
Quando ela virou as costas já estava decidido por mim e pela
Marília sem termos que trocar nenhuma palavra. Eu teria o Yuri ali mesmo, não
sairia daquela maca por nada no mundo. A Marília fechou a porta, e teve a
brilhante ideia de erguer o encosto da cama. Já que eu não conseguia levantar a
gente teve que improvisar.
Na posição mais sentada eu comecei a fazer a força do jeito
certo e agora não doía mais. A cada
contração eu respirava fundo, segurava a barra de ferro da cabeceira com as
duas mãos, fazia força no abdômen e não gritava. Eu sabia que se quisesse ter
me filho em paz teria que me esforçar e ser mais rápida.
Depois de pouco tempo ouvi a Marília dizer: “Está coroando,
você quer sentir a cabecinha dele?”... No primeiro momento eu exitei, não
queria perder o foco das contrações, mas depois eu coloquei a mão e senti os
cabelinhos do Yuri. Aquilo me deu um novo fôlego, estava acabando.. estava
acabando.. estava acabando...
Nesse momento eu comecei a chamar pelo Victor, não queria
que o Yuri nascesse sem a presença do pai. Eu sabia que a Marília queria me
proteger ali no quarto, mas sabia também que ela iria me respeitar e chamar o
Victor na hora que o Yuri estivesse nascendo.
Me lembro de vê-la saindo pela porta, pouco tempo depois
apareceu uma residente de olhos arregalados (ela nunca tinha feito um parto
antes) e a Marília dizendo pra ela ficar ali comigo.
Aqui preciso fazer uma pausa pra explicar o que estava
acontecendo...
Por obra de Deus e de Nossa Senhora que eu chamei por
tantas e tantas vezes, todas as 4
grávidas internadas estavam dando a luz ao mesmo tempo que eu. Por esse motivo
que a médica que iria voltar dentro de 20 minutos não apareceu mais. A equipe
toda corria de um lado para o outro pra atender as meninas e como eu tava ali
bem quietinha e com a porta fechada fui “esquecida”. Era tudo que eu
precisava!!!
Bem.. voltemos ao quarto e ao nascimento do Yuri!!!
A residente de olhos arregalados se posicionou pra receber o
Yuri. Ao avistar um médico passando pelo corredor ela tentou chamá-lo mas eu a
impedi dizendo que não queria médico nenhum! Ela disse em meio a um sorriso
“Você é louca”... eu segurei no braço dela e com os olhos disse que nós
faríamos aquilo juntas. Ela entendeu e não falou e nem chamou mais ninguém.
Depois disso só me lembro de ver o Victor entrando pela
porta, as luzes sendo acesas sei lá por quem. O Vitor se posicionando ao meu
lado e sentir sua mão no meu ombro. Pronto! Agora nosso filho poderia nascer.
Fiz uma força... metade da cabeça...
Mais uma força... cabeça inteira...
Mais uma super força...Yuri
Parir descabela a gente!!! E emociona...!!!
Abri os olhos e vi meu filho todo melecadinho ali na cama
entre as minhas pernas. Não consigo explicar o que senti naquele momento. É
como se meu coração tivesse parado. Aquela frase super clichê: “A partir
daquele momento o meu coração começava a bater fora do meu peito” descreve mais
ou menos o que eu senti.
40 semanas e 7 dias de espera, 3 meses de muitos enjoos,
barriga crescendo, noites mal dormidas por causa da barriga, curiosidade,
preparação, ansiedade, espera... dores... e finalmente meu filho chegava ao
mundo.
Ele era lindo, perfeito. Yuri nasceu de olhos abertos para o
mundo. E logo seus olhinhos encontraram os meus. Depois de terem cortado seu
cordão (contra a minha vontade, que pedia para colocá-lo logo nos meus braços)
eu pude sentir aquele corpinho quente e aquele cheirinho de vida. Eu ainda me
lembro do cheiro do meu filho quando nasceu!!!
Abraçada com ele eu olhei pro Victor e pude sentir também a
sua emoção. Era o nosso filho, fruto do nosso amor, da nossa história, das
nossas escolhas...
E a partir dali seríamos nós três.. a minha FAMÍLIA!!
NÓS...
YURI.. NOSSO PRÍNCIPE!!